Vaudeville – Ricardo Amaral
Vaudeville é o livro de memórias de Ricardo Amaral, dono de inúmeras casas noturnas, restaurantes e diversos outros empreendimentos no Rio de Janeiro, São Paulo, Paris e Nova Iorque. Comprei esse livro para ver se ele trazia dicas de empreendedorismo e como o megaempresário conseguia tocar e gerenciar tantos negócios ao mesmo tempo. As dicas são resumidas nas conclusões do livro, páginas 448, 449 e 450, que reproduzo de forma resumida abaixo:
“Cheguei à conclusão de que a arte de proporcionar momentos de prazer é algo nato, trabalhoso e extremamente perigoso. Não se aprende na escola, nem mesmo nas faculdades de marketing ou de hotelaria. Claro que amoldar esse dom com modernas técnicas é extremamente salutar. Mas, se esse desejo não vem de dentro, não adianta nem tentar. E deve-se estar preparado para tudo.
“Eu conheço inúmeras mulheres fiéis; homens, alguns. Mas o público não é nada fiel. A fidelidade do público é zero. Mesmo que as pessoas digam que adoram o lugar, é só até abrir o próximo um pouco mais atraente. (…)
“Provavelmente o maior erro de um proprietário de restaurante ou casa noturna é tentar conquistar seus clientes pelo recurso da boca-livre. Muitas vezes o dono do lugar acredita que oferecer drinques e jantares é uma maneira de fidelizar o cliente, mas é justamente o oposto. É a mais perfeita receita do insucesso. Passa algo estranho pela cabeça dos consumidores que faz com que eles não queiram pagar por algo que já tiveram de graça. Preferem, ao contrário, pagar em outro lugar. (…)
“Por que tanta gente tem vontade de abrir um restaurante, um bar, uma casa noturna? Certamente não é para fazer fortuna, ao contrário, os riscos nunca são compatíveis com os ganhos. Nunca! Caso a opção seja simplesmente investir, piorou ainda mais. Deixar um local em mãos de gerentes, mesmo competentes, geralmente é catastrófico. (…)
“Veja o exemplo de Nova York, onde o turn over de restaurantes é o maior do mundo. Os registros indica, que no ano de 2009 foram 247 locais abertos contra 183 fechados. Cada dia abrem mais e fecham menos, contudo o público consumidor não se multiplica na mesma velocidade. Outro dado também curioso é que somente 27 dos 200 restaurantes mais cotados foram abertos há mais de dez anos. Onde está a tradição?
“(…) Mesmo que tudo dê certo, você consiga a tão almejada lucratividade de 20% (nunca mais do que isso) sobre o movimento, há um custo a pagar: você virou escravo do seu negócio!
“Na noite é igualzinho. Afirmo que, como na medicina, essa atividade é realmente um sacerdócio! Escravizante! Porém, fascinante, senão não atrairia tanta gente. Parece um pouco como o casamento: tem sempre muita gente querendo sair, mas muito mais gente querendo entrar! Mesmo sendo o pior negócio do mundo!”
Para aqueles que, como eu, estavam procurando dicas, esse é o único trecho que se salva do livro, e assim você pode economizar seu tempo e dinheiro. Há vários problemas sérios com essa bíblia de 500 páginas, que poderiam ter sido facilmente resolvidos se o autor tivesse contratado um editor para revisar, organizar e adicionar notas de pé de página. Sinceramente, uma personalidade como o Ricardo Amaral merecia um livro muito melhor:
- Há inúmeros erros de português e inglês.
- O autor abusa de dois chavões: “Pano rápido!” (para fechar uma história embaraçosa) e “eu entubei” (que continuo sem entender a origem).
- Há citações em francês sem tradução para o português (o autor assume que os leitores entendem francês).
- O autor cita inúmeras personalidades, atores e atrizes sem qualquer referência, assumindo que o leitor as conheçam.
- O livro não segue uma ordem cronológica e/ou lógica e é mal organizado.
- Não há referência de datas para a maioria das histórias, e com isso dá-se a impressão que todos os empreendimentos do autor ocorreram ao mesmo tempo, enquanto que o livro retrata um período de 50 anos. Faltou um infográfico com uma linha do tempo no início do livro.
- Muitas histórias são repetidas várias vezes no livro.
- Raramente o autor fala de cifras. O caso mais emblemático é o da rede de lanchonetes Rick, que ele diz apenas que não deu certo pela maxidesvalorização do cruzeiro no início da década de 1970, sem explicar o motivo exato de isso ter afetado o negócio dele (ele menciona ter dívidas em dólar, mas não explica quais seriam e porque tomou dívida – se o cara é rico, porque se endividou?). Mais adiante no livro há um clipping da época que diz que o Ricardo Amaral perdeu tudo o que tinha nessa história, incluindo sua residência, fato que ele não menciona.
O que eu pude inferir é que ele teve muitos negócios e a maioria deu prejuízo, mas os que deram lucro foram tão bem sucedidos que cobriram o prejuízo dos maus negócios. Muitos negócios também ele montou e depois que estava andando, ele vendeu, como foi o caso da RenTV (empresa de aluguel de televisores), dos hotéis Caesar Park e do Metropolitan (ATL Hall/Claro Hall).
Há muito mais coisa que pode ser dita sobre o Ricardo Amaral e sobre seus inúmeros negócios, porém empreendedores não encontrarão nesse livro informações úteis.
Conclusão Final: Não Recomendado
Ficha Técnica
Título: Vaudeville
Autores: Ricardo Amaral
Editora: Leya
Número de Páginas: 488
Ano de Lançamento: 2010
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