Empreendedorismo Não se Aprende na Escola – Robert Kiyosaki
Pior livro do Robert Kiyosaki publicado até o momento; das mais de 400 páginas, só há provavelmente 10 páginas de material novo. Ele cita vários livros e vale mais a pena ler os livros originais. Extremamente mal editado e mal escrito (os livros dele ficaram piores depois de sua batalha legal com a Sharon Lechter e depois de passarem a ser publicados pela própria editora do Kiyosaki); para um camarada que tira onda de milionário, custaria apenas alguns milhares de dólares para ele contratar um editor e um revisor para ter um livro melhor escrito (Sharon, nós sentimos sua falta!). O que é novo neste livro é o fato do Kiyosaki perder bastante tempo expressando suas opiniões pessoais sobre política norte-americana, o que é completamente desnecessário e não faz o menor sentido para leitores internacionais e que provavelmente irritará americanos que não sejam republicanos com mais de 50 anos de idade (isto é, de extrema direita) e aqueles que não assistem ao canal Fox News (canal opinativo norte-americano destinado a telespectadores de extrema direita). O autor continua a escrever histórias que não são verdadeiras e publicar vários erros. O título é excelente, mas o livro não cumpre sua promessa. Se você gostou do título do livro, leia o primeiro livro do Kiyosaki, “If You Want to Be Rich & Happy Don’t Go to School”, que é bem melhor escrito e bem mais profundo (coescrito com a Dra. Hal Zina Bennett, o que faz uma grande diferença). Curiosamente, o Kiyosaki não gosta de promover esse seu primeiro livro e poucas pessoas sabem da existência desse excelente trabalho.
Versão longa:
Gostaria de iniciar esta resenha explicando que sou um grande fã do Robert Kiyosaki desde 2001, ano em que eu estava com sérios problemas financeiros. Eu li todos os seus livros e joguei muito o seu jogo Cashflow, e pude obter minha independência financeira em 2007. Desta forma, eu tenho um enorme débito de gratidão com o Robert Kiyosaki e não tenho nada pessoal contra ele.
Dito isso, eu fiquei extremamente desapontado ao ler este livro, que considero ser o pior trabalho do Kiyosaki até o momento. Aparentemente o novo plano do Kiyosaki para escrever novos livros é ler uma meia dúzia de livros e explicar os conceitos usando as ideias que ele já publicou em seus livros anteriores. Nesse livro de 400 páginas, provavelmente apenas 10 páginas trazem material novo. Há coisa boa nesse material, por exemplo na página 197 (na edição norte-americana):
“Do your part to fight the entitlement mentality: Don’t give your kids money” e “Many sports programs teach kids that everyone gets a trophy, even if they lose. What is that teaching a child? That everyone is entitled to be a winner?”
“Faça a sua parte para combater a mentalidade dos ‘meus direitos’: não dê dinheiro aos seus filhos” e “Muitos programas esportivos nos Estados Unidos ensinam crianças que todo mundo ganha um troféu, mesmo os perdedores. O que isso ensina às crianças? Que todo mundo tem o ‘direito’ de ser um ganhador?” (Em muitas escolas nos Estados Unidos um placar do jogo não é mantido e dá-se troféu ou medalha de primeiro lugar a todas as crianças. A ideia é “proteger” as crianças de não se sentirem “perdedores”.)
Porém, o leitor que já leu os livros anteriores do Kiyosaki provavelmente não terá paciência para ler este livro e garimpar as pérolas de conhecimento existentes. Todo o resto é composto de conteúdo reciclado e propaganda dos livros e jogos do autor.
Não há nada errado em usar ideias criadas por outras pessoas, desde que você as explique com as suas próprias palavras, adicione suas próprias ideias e conclusões a elas e adicione uma bibliografia ao livro. Entretanto, o Kiyosaki simplesmente copia e cola texto de outros livros sem adicionar nada de novo, portanto é melhor negócio ler os livros originais para uma compreensão mais aprofundada do tema. Ademais, com exceção de “Pai Rico, Pai Pobre”, o autor não adiciona uma bibliografia a seus livros, o que é um pecado mortal no mercado editorial. Eu listei abaixo os livros que eu identifiquei que o Robert Kiyosaki leu para escrever “Empreendedorismo Não se Aprende na Escola” (isto é, esta é a bibliografia que está faltando no livro):
ARNOLD, Karen. Lives of Promise: What Becomes of High School Valedictorians. Jossey-Bass, 1995.
BOETCKER. William J. H. The Ten Cannots. 1916.
BOGLE, John. The Battle for the Soul of Capitalism. Yale University Press, 2005.
GRIFFIN, G. Edward. The Creature of Jekyll Island. Amer Media, 1994.
ISAACSON, Walter. Steve Jobs. Simon & Schuster, 2011 (publicado no Brasil com o mesmo título).
MASLOW, Abraham Harold. Motivation and Personality. Harper, 1954.
PAUL, Ron. End the Fed. Grand Central Publishing, 2009.
STANLEY, Thomas. The Millionaire Mind. McMeel, 2001 (publicado no Brasil como A Mente Milionária)
O livro é mal editado e mal escrito e muitas vezes eu pensei estar lendo uma apostila publicada pelo próprio autor. Aliás, após uma rápida pesquisa, descobri que a editora deste livro, Plata Publishing, pertence à empresa Rich Dad Operating Company, que por sua vez pertence ao casal Robert e Kim Kiyosaki. Ou seja, os livros do Kiyosaki atualmente são publicados por ele mesmo. O autor tira onda de milionário, porém ele não tem dinheiro para contratar um editor e um revisor para revisar e melhorar o livro?
O que é novo nesse livro é que o Kiyosaki resolveu escrever sobre sua visão pessoal sobre política norte-americana, basicamente defendendo o Mitt Romney (candidato à presidência nas últimas eleições) e falando mal do Barack Obama. Isso é completamente desnecessário. Eu não sou cidadão americano e, portanto, não sou democrata (que é o partido de esquerda) nem republicano (que é o partido de direita). Em minha opinião, o sistema político dos Estados Unidos está completamente corrompido pelo dinheiro das grandes corporações e, portanto, não importa se o presidente é republicano ou democrata; as políticas governamentais são atualmente ditadas pelos grupos de interesse especiais e o sistema está visivelmente quebrado (o Kiyosaki poderia ter falado disto em vez de ficar defendendo ou malhando pessoa A ou pessoa B, em minha humilde opinião). Os trechos em que o autor fala sobre política irritará todos os leitores que não sejam republicanos com mais de 50 anos de idade (isto é, de extrema direita), aqueles que não assistem à Fox News (canal opinativo norte-americano de extrema direita) e aqueles que são de outros países. Afinal, estrangeiros em geral não seguem e/ou não estão interessados em política norte-americana. Curiosamente, neste livro o Kiyosaki tira onda de que seus livros são publicados em mais de 100 países e traduzido em mais de 50 idiomas (e, portanto, a maioria de seus leitores está localizada fora dos EUA), porém o autor não tem a sensibilidade de não fazer comentários que são específicos sobre os EUA e que não fazem sentido para aqueles fora dos EUA e que são de difícil tradução para outras culturas (e, mesmo dentro dos EUA, tal discussão em um livro sobre educação é completamente desnecessária). Acredito, infelizmente, que o Kiyosaki está se tornando o estereótipo do americano médio, uma pessoa que desconhece o significado de “o resto do mundo” e “opinião dos outros”.
Como muito dos leitores dos livros do Kiyosaki já sabem, a coisa mais chata do estilo de escrita do autor é a repetição ad nauseum de certas expressões, frases ou palavras. Em “Empreendedorismo Não se Aprende na Escola” a palavra da vez foi “Steve Jobs”. Ele repetiu o nome do cofundador da Apple 33 vezes no livro (sim, eu contei: p. 7, p. 8, p. 39, p. 40, p. 59, p. 61, p. 65, p. 66, p. 70 2x, p. 89, p. 102, p. 109, p. 152, p. 167, p. 168, p. 169, p. 170, p. 187 2x, p. 250, p. 266, p. 295, p. 331, p. 351, p. 383 2x e p. 391 6x). E o pior: ele escreve como se o Jobs fosse o único fundador da empresa, completamente ignorando que o gênio técnico por trás da Apple foi o outro cofundador, Steve Wozniak, e que eles só conseguiram levantar dinheiro por causa do terceiro cofundador, o capitalista de risco Mike Markkula. Mesmo o Jobs sendo considerado um “gênio” em determinados círculos (uma visão que eu particularmente não concordo, especialmente depois de ler a biografia escrita por Walter Isaacson), a Apple não existiria como ela é hoje sem o Wozniak ou o Markkula.
E, como acontece com a maioria de seus livros, o Robert Kiyosaki insiste em publicar histórias que simplesmente não são verdadeiras, como você verá na mais abaixo em uma lista completa de erros presentes em “Empreendedorismo Não se Aprende na Escola”.
Em resumo, o título deste livro é excelente, porém o livro em si é horrível. Curiosamente, o Kiyosaki publicou um excelente livro sobre o tema, If You Want to Be Rich & Happy Don’t Go to School, que é bem melhor escrito e bem mais profundo (coescrito com a Dra. Hal Zina Bennett, o que faz uma grande diferença). Curiosamente, o Kiyosaki não gosta de promover esse seu primeiro livro (possivelmente porque ele ganha bem menos dinheiro com ele, pois é publicado por uma editora que não é de sua propriedade) e poucas pessoas sabem da existência desse excelente trabalho.
Abaixo você encontrará meus comentários específicos sobre o livro “Empreendedorismo Não se Aprende na Escola”, de Robert T. Kiyosaki. O número das páginas refere-se à edição em inglês, pois foi a edição que eu li. Mantive o texto original em inglês, adicionando uma tradução livre abaixo, quando pertinente.
p. 25: “(…) get my Masters Degree (…)” A grafia correta é “Master’s degree”.
p. 38-39: O autor publica uma lista de pessoas bem sucedidas que não concluíram nível superior. Há três problemas com essa lista. Primeiro, várias pessoas presentes na lista são de um tempo que faculdades sequer existiam e/ou não eram relevantes para suas profissões (por exemplo, Cristóvão Colombo). Segundo, há na lista diversas pessoas que cursaram faculdade, mas que não se graduaram, pois largaram a faculdade para tocarem seus negócios. A presença de tais nomes na lista é questionável, visto que sem as conexões feitas na faculdade, essas pessoas não seriam capazes de iniciar seus negócios e/ou carreiras e tornarem-se bem sucedidas (por exemplo, Bill Gates, Paul Allen, Mark Zuckerberg e Karl Rove). E, em terceiro lugar, temos que várias pessoas que colaram grau foram incorretamente adicionadas à lista:
Em número sete ele lista John Glenn, que se formou em Engenharia pela Muskingum College em New Concord, Ohio (fonte: site da NASA).
Em número dez ele lista Winston Churchill. Sir Churchill graduou-se pela Royal Military College (campus Sandhurst) em 1894.
Em número 33 ele lista Carly Fiorina, “CEO da Hewlett Packard”. Ele deveria dizer “ex-CEO”, visto que ela saiu da empresa em 2005, muito antes do livro ter sido publicado. A Sra. Fiorina tem bacharelado em Filosofia e Artes Medievais pela Universidade de Stanford (1976), um MBA em Marketing pela Universidade de Maryland (campus College Park, 1980), e mestrado em Administração de Empresas pelo MIT em 1989. Dessa forma, listá-la como não tendo terminado faculdade é simplesmente absurdo.
Em número 41 ele lista J. Paul Getty, que se formou em Economia e Ciências Políticas pelo Magdalen College da Universidade de Oxford em 1914.
Em número 44 ele lista Tom Anderson (fundador do MySpace), que se graduou com bacharelado em Retórica e Inglês pela Universidade da Califórnia (campus Berkeley) e mestrado em Cinema – Estudos Críticos pela Universidade da Califórnia (campus Los Angeles).
Em número 47 ele lista Steve Wozniak. É verdade que ele não terminou faculdade antes de fundar a Apple, porém ele voltou à faculdade depois que ter virado milionário e graduou-se em 1986 pela Universidade da Califórnia (campus Berkeley).
p. 43: “I accepted the appointment to Kings Point and graduated in 1969 with a Bachelor of Science degree.”
“Eu aceitei a nominação para Kings Point e me graduei em 1969 com um bacharelado em exatas” (nos EUA, o bacharelado em humanas é chamado Bachelor of Arts ou B.A. e o bacharelado em exatas é chamado Bachelor of Science ou B.Sc.).
Esta é a primeira vez que o Kiyosaki adiciona esse “com um bacharelado em exatas”. O que isto realmente significa? Eu acredito que sem informar a disciplina exata de seu diploma, dizer “bacharelado em exatas” não significa absolutamente nada.
p. 79: “Later in life a child may learn another language, but the accent developed early in life often transfers to the new language.”
“Mais tarde na vida uma criança pode aprender outro idioma, mas o sotaque desenvolvido cedo na vida normalmente é transferido para o novo idioma”.
Isto simplesmente não é verdade. Quando você aprende um novo idioma, você adquire o sotaque do seu professor e não o sotaque do seu primeiro idioma. E, dependendo da idade em que você aprende um segundo idioma, você não terá qualquer tipo de sotaque.
p. 89: “Steve Jobs loved his game ¬– the game of making people feel smart, hip, and like geniuses…”
“Steve Jobs amava seu jogo – o jogo de fazer pessoas se sentirem inteligentes, de vanguarda e como gênios…”
Pelo contrário. Steve Jobs era conhecido por ridicularizar e tratar mal as pessoas ao seu redor, sendo odiado por seus colegas e subordinados. (Fonte: Jobs, de Walter Isaacson)
p. 94: “(…) Masters or Bachelors degrees.” A grafia correta é “Master’s” e “Bachelor’s”, respectivamente.
p. 94: “Today, one of my personal role models for business leadership is Donald Trump. Although he is rich and successful, he treats most people, rich or poor, with respect. My experience in working with Donald is that his communication, even when it’s tough, is always respectful.”
“Hoje um dos meus modelos para liderança empresarial é o Donald Trump. Apesar de ele ser rico e bem sucedido, ele trata a maioria das pessoas, rica ou pobre, com respeito. Minha experiência em trabalhar com o Donald é que sua maneira de comunicar, mesmo quando dura, é sempre de maneira respeitosa”.
Eu garanto que há muita gente que discordará com esta frase, começando pelo presidente Barack Obama. O Donald Trump “demandou” que o presidente mostrasse a sua certidão de nascimento e, após o presidente ter feito isso, o Trump está agora “demandando” que o presidente mostre seus históricos escolares e formulário para obtenção de passaporte e inclusive ofereceu US$ 5 milhões para caridade caso o presidente acolhesse a sua demanda. Isso ocorre porque o Donald Trump acredita que o presidente nasceu no Quênia. Quando um jornal perguntou ao Trump se ele mostraria também os seus próprios documentos, ele respondeu que o pedido do jornalista era “estúpido”. Isso é tratar o presidente dos Estados Unidos com respeito? Basta escutar o Trump e o Obama falando e você verá claramente qual dos dois é mais educado.
p. 111: “The Harvard Review Journal published an article (…)”
“O Harvard Review Journal publicou um artigo (…)”
Sem referências bibliográficas, como autor, título, edição, ano etc.
p. 120-121: Robert Kiyosaki compara o presidente americano Franklin Roosevelt a Adolf Hitler. Eu não estou brincando. O Kiyosaki acha que a criação da Seguridade Social (equivalente ao INSS no Brasil) em 1935 é comparável ao Holocausto (no Brasil, seria como comparar Getúlio Vargas a Hitler). Eu quase joguei o livro fora depois dessa, mas eu continuei lendo, pois queria escrever essa resenha.
p. 179: “There is a lot of talk about ‘tort reform,’ which means limiting the outrageous sums of money that judges and juries can award a patient. One reason there may never be ‘tort reform’ is because most of the lawmakers in Washington are lawyers. The rest are politicians who receive large campaign contributions from trial lawyers.”
“Há muita discussão sobre a chamada ‘reforma judiciária’, que limita a quantidade ridícula de dinheiro que juízes e jurados podem dar a pacientes em caso de erro médico. Um motivo que talvez nunca haja uma ‘reforma judiciária’ é que a maioria do legislativo em Washington é formada por advogados. O resto são políticos que receberam grandes contribuições de advogados”.
O suposto objetivo da “reforma judicial” que está em discussão nos Estados Unidos é baixar o custo do seguro contra erros médicos e o custo do seguro saúde. Porém, nos estados dos EUA em que tal reforma foi feita, não houve qualquer queda no custo do seguro tanto para médicos quanto para pacientes. Desta forma, é minha visão que os políticos americanos estão corretos em bloquear tal reforma, não porque eles sejam advogados ou financiados por advogados, mas porque é o melhor para a população norte-americana – a não ser que seja obrigatório para as empresas de seguro baixarem seus preços (o que nunca ocorrerá). Para um entendimento mais aprofundado sobre esse assunto, assista ao excelente documentário “Hot Coffee” (que o Sr. Kiyosaki obviamente não assistiu).
p. 181: “President Obama went on the offensive attacking the rich, saying the rich 1% did not pay their ‘fair share’ in taxes. (…) If 1% of the wealthiest Americans pay 37% of all taxes collected, while the half of Americans earning $34,000 a year or less pay only 2.4%, it doesn’t seem unreasonable to ask: Who isn’t paying their fair share?”
“O presidente Obama foi para a ofensiva atacando os ricos, dizendo que 1% da população mais rica não paga sua ‘porção justa’ do imposto de renda. (…) Se 1% dos norte-americanos mais ricos paga 37% do total coletado pela Receita Federal e se metade dos americanos ganhando US$ 34.000 por ano ou menos pagam somente 2,4%, parece ser razoável perguntar: quem é que não paga sua ‘porção justa’ do imposto de renda?”
Essa é fácil: as grandes multinacionais americanas. As maiores corporações americanas pagam zero de impostos nos EUA (empresas como GE, Boeing, Verizon, Mattel, Bank of America e Google – pode pesquisar), enquanto têm lucros recordes. Inclusive algumas das maiores empresas americanas recebem restituição de imposto de renda na ordem de milhões de dólares enquanto têm lucros recordes. Das 30 maiores empresas nos Estados Unidos, apenas a DuPont pagou mais de 4% de imposto de renda nos últimos quatro anos. Algumas pessoas são favoráveis que grandes corporações americanas não paguem imposto, pois elas geram empregos. O problema é que estes empregos geralmente estão na China, Índia e Irlanda. Esse importantíssimo assunto não foi explorado pelo o autor nesse livro. Para mais informações, assista ao documentário “We’re not Broke” e leia o livro “Treasure Islands”, de Nicholas Shaxson.
p. 194: “The reason the United States cannot balance a budget is simply because the cost of our entitlement programs.”
“O motivo pelo o qual os Estados Unidos não conseguem fechar seu orçamento federal é por causa dos nossos programas sociais”.
Será que isso é realmente verdade? Se as grandes corporações pagassem seus impostos como deveriam, será que não haveria dinheiro suficiente para o orçamento “fechar”? Se o governo norte-americano parasse de comprar navios e aviões que os militares não querem, será que o orçamento não fecharia? (A bem da verdade, o Kiyosaki fala sobre isso no livro.) Como todo mundo (exceto os governos) sabe, você não pode gastar mais dinheiro do que ganha. A questão é simples.
p. 197: “(…) the Maine Corps (…)” Erro de grafia, o correto é “Marine.”
p. 202: “Very few schools recommend their students read Atlas Shrugged by Ayn Rand, who takes the other side of the coin, vilifying the socialists and honoring the capitalists.”
“Poucas escolas recomendam a seus alunos a lerem A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, que vê o outro lado da moeda, vilificando os socialistas e honrando os capitalistas”.
O meu palpite é que o Robert Kiyosaki nunca leu este livro e apenas o citou porque o Paul Ryan, candidato a vice-presidente na chapa do Mitt Romney, mencionou em uma entrevista que esse era o seu livro preferido e que mais influenciou sua carreira (eu não acredito que o Kiyosaki seja o tipo de pessoa que goste de ler livros, do contrário ele seria melhor escritor). Senão o Robert Kiyosaki também mencionaria que esse livro fala sobre egoísmo, o dinheiro acima de tudo, não importando as consequências, e a grande discussão sobre ética promovida pelo livro. Ademais, eu acho pouco provável que uma escola recomende um livro de 1.200 páginas a seus alunos.
p. 239: “In 2012, a battle broke out in the state of Wisconsin. The fight was an election to unseat (recall) their newly elected governor. Many workers were angry with Governor Scott Walker for cutting their pay and retirement benefits, benefits the state could no longer afford to pay.”
“Em 2012 uma batalha explodiu no estado de Wisconsin. A luta era uma eleição para tirar o recém-eleito governador. Muitos trabalhadores estavam irados com o governador Scott Walker por ele ter cortado seus salários e benefícios que o estado não tinha mais condições de arcar”.
Ein? A razão não foi essa. Os trabalhadores estavam protestando porque o governador queria tirar o direito deles de negociar com o governo através de um sindicato. Aqui está um texto do site CBS News:
“The recall fight, prompted by Walker’s decision to strip Wisconsin public workers of their collective bargaining rights, has doubled as a proxy fight over whether Republicans can push through spending cuts and confront organized labor – and live to tell about it.”
“A batalha do ‘recall’, promovida pela decisão do governador Walker de tirar dos trabalhadores públicos do estado de Wisconsin o direito de negociação coletiva, transformou-se em uma batalha sobre se republicanos podem passar cortes e confrontarem sindicatos – e sobreviverem para contar”.
Para mais informações, assista ao documentário “Citizen Koch”. O Sr. Kiyosaki deveria verificar os fatos antes de escrever besteira.
p. 258: “Globalization also means the U.S. government has already surrender massive amounts of political and economic power to global organizations such as the United Nations, the WTO (World Trade Organization), the IMF (International Monetary Fund) and the World Bank.”
“Globalização também significa que o governo norte-americano já abriu mão de poder político e econômico para organizações globais como a ONU, a OMC (Organização Mundial do Comércio), o FMI e o Banco Mundial”.
Os Estados Unidos simplesmente ignoram qualquer coisa que seja decidido por essas instituições – por exemplo, a invasão do Iraque, em desacordo com decisão da ONU. A OMC e o FMI são fantoches dos interesses americanos. E o Banco Mundial, apesar de seu nome, é de fato controlado pelos EUA: todos os presidentes desde sua formação são cidadãos norte-americanos e os EUA têm poder de veto nesta instituição.
p. 277: “He just did not pay it to you, and then he let’s (sic) you think he is giving you extra money.” Erro grosseiro de gramática.
p. 281: “If private citizens did not do what the government needs done, we would have communism.”
“Se cidadãos não fizessem o que o governo quer que seja feito, nós teríamos o comunismo”.
Como é que é? É justamente o contrário. Aparentemente o Kiyosaki não sabe a diferença entre anarquia e comunismo. O que ele descreve é anarquia, onde cidadãos fazem o que eles quiserem. No comunismo o governo controla os cidadãos e as pessoas não podem fazer o que eles querem, apenas o que o governo determina. Basta ver a Coréia do Norte e a antiga União Soviética.
p. 307: “Q: Who does God love more? A: The rich? The middle class? Or the poor?”
“Pergunta: Quem Deus ama mais? Resposta: Os ricos? A classe média? Ou os pobres?”
Aparentemente o Kiyosaki não sabe a diferença entre pergunta e resposta.
p. 331: “The word education comes from the word educe.”
“A palavra educação vem da palavra deduzir”.
Não. A palavra educação vem do latim “educatio”.
p. 344: “(…) the Maine Corps (…)” Erro de grafia, o correto é “Marine.”
p. 351: “This is what Steve Jobs and Mark Zuckerberg did when Apple and Facebook went public. (…) They became billionaires.”
“Isto é o que o Steve Jobs e o Mark Zuckerberg fizeram quando a Apple e o Facebook abriram o capital. (…) Eles se tornaram bilionários.”
Isso não é verdade. Na abertura do capital da Apple em 1980, o Steve Jobs tinha 7,5 milhões de ações e como cada ação foi vendida por US$ 22, suas ações valiam US$ 165 milhões. Apesar de sua fortuna ter atingindo o valor de US$ 10 bilhões, isto foi conseguido após muitos anos, e não no dia da abertura do capital da Apple, como o texto afirma.
p. 361: “It isn’t surprising that, in recent months, the words socialism and communism are heard more and more often in mainstream media.”
“Não é surpreendente que, nos últimos meses, as palavras socialismo e comunismo são ouvidas com mais frequências na mídia popular.”
Apenas de você considerar a Fox News como “mídia popular”. Como explicado, a Fox News é um canal opinativo de extrema direita (apesar do nome e de sua propaganda, ela não é um canal de notícias, mas sim de opinião e debate).
p. 368: “In fact, the word capital is derived from the word cattle.”
“De fato, a palavra capital é derivada da palavra gado”.
Essa talvez seja a pior de todas. A palavra “capital” vem do latim “capitalis”, que significa “cabeça”. Mais uma vez, o Kiyosaki deveria pesquisar mais antes de escrever besteira.
p. 399: “As soon as I started writing this book I knew it would be the most important book I’ve ever written.”
“Tão logo eu comecei a escrever este livro eu sabia que este seria o livro mais importante que eu já escrevi”.
Sr. Kiyosaki, você tem definitivamente um problema de ego. Este é, de longe, o seu pior trabalho.
Aparentemente eu pesquisei muito mais que o Kiyosaki, o que é simplesmente ridículo. Este é o último livro desse autor que lerei em minha vida, apesar de eu ser um grande fã. Não dá para continuar lendo os livros do Kiyosaki quando os novos livros são apenas os livros antigos reciclados e, pior, com uma quantidade assustadora de erros. Aparentemente o Robert Kiyosaki nunca ouviu o ditado “se você não tem nada para falar, fique calado”.
Conclusão Final: Não Recomendado
Obs: Li este livro no original em inglês e por isso não tenho como avaliar a qualidade da tradução/adaptação.
Ficha Técnica
Título: Empreendedorismo Não Se Aprende Na Escola
Título Original: Why “A” Students Work for “C” Students
Autor: Robert Kiyosaki
Número de Páginas: 408 (português), 400 (inglês)
Ano de Lançamento: 2013
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